Postado em 10 de outubro de 2023
No rádio ouço canções melódicas que me transportam às minhas origens
Através da imagem cristalina da taça de vinho que ora degusto, a saudade teima em me visitar nessas noites solitárias e tristes de sábado. Não sei o porquê, mas é exatamente às sextas-feiras que a ausência que sinto do que outrora foi cotidiano e hoje é só paisagem, começa a me atormentar o pensamento, trazendo consigo um desejo enorme de voltar de onde eu talvez nunca deveria ter saído.
No rádio ouço canções melódicas que me transportam às minhas origens interioranas de onde vim e que hoje está tão distante fisicamente, mas muito presente em meus devaneios. Ou seria desejo latente? Saudades infinitas eu sinto em meu peito, de querer e poder viver tudo o que ficou para trás, quando tomei o rumo-leste em direção ao mar em busca de novos horizontes.
Meus pensamentos voam para dentro do meu eu verdadeiro e trazem de volta, as mais longínquas e doces lembranças da Gênesis da minha existência, quando eu me encantava com a chuva que descia pela Rua da Paz, naquelas tardes plúmbeas e recheadas de nostalgia, que me transportavam pelo imaginário infantil de um menino de pés descalços, mas de alma vestida de poesia, água e sal; elementos salutares, que sempre liquefazem a minha essência e a transformam em um amálgama de paz e luz e que hoje, depois de tanto tempo, guiam a minha vida através dos sorrisos mais humildes e sinceros que encontro pelas veredas do destino.
Não busco o sal, a rocha e nem o cais. Mas quero e faço dos desafios, o meu alimento para continuar seguindo firme e reto feito pedra atirada ao infinito. O vento guia os meus caminhos e em parceria com ele, o mar, está sempre regendo a orquestra da minha alma e buscando o melhor afinamento para o Frevo de passo rasgado que eu ainda quero dançar pelas ruas históricas do Recife.
Sinto falta da Ciranda cantada por Lia de Itamaracá...
Quero muito ouvir o canto da Sereia sob o luar de uma noite junina, açoitada pelo frio da madrugada silenciosa que paira pelas ruas vazias de Gravatá, com seus paralelepípedos tristes...
Através da imagem cristalina da taça de vinho que agora chega ao término, ouço o bailar das árvores em parceria com o vento, anunciando que a madrugada finda e o sol já paira no horizonte, trazendo a manhã dominical. Desperta em mim, o desejo de voltar a viver aqueles domingos de luz tão mansa e sensações nostálgicas, que sempre traziam consigo o prenúncio de saudades e vontade de ser aquilo que nunca fui e que hoje eu sou, mas não queria ser.
Vontade grande, eu tenho, de poder voltar e começar tudo de novo através das experiências de vida adquiridas pelos longes onde andei e com o peito cheio de saudades, as quais findam em um afã de poder abraçar o que deixei para trás há tanto tempo e que até hoje tenho a lembrança triste em ver “você” me fitando em sinal de adeus, à medida que o horizonte se agigantava e o que mais importava, estava ficando para trás, com os olhos cheios de lágrimas e o peito cheio de amores e saudades, no dia que parti.
A cada regresso temporário meu, “você” não está mais a me esperar de braços abertos correndo para me abraçar, posto que viraste estrela e hoje habitas o infinito... minha mãe!!!
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