Postado em 13/09/2
No dia que parti, uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Desde criança, eu sempre olhava na direção do Recife e no meu imaginário fértil eu sentia a presença infinita do mar em meus devaneios.
O grande dia chegou e foi em um dia sereno daquele abril de 1986, que entrei em um ônibus da Caruaruense e parti em direção ao mar. Levei comigo sonhos, esperanças, medos, alegrias e vontade de crescer como homem e me tornar um grande cidadão.
Apesar da alegria intrínseca que borbulhava em mim, lá no fundo da minha alma pairava a sombra da saudade que ora começava a habitar as minhas lembranças que estavam ficando para trás e se escondiam por entre as montanhas azuis que cercam Gravatá.
Contudo, eu levei na bagagem a minha cidade-natal através das lembranças do ar bucólico que as tardes de chuva trazem para Gravatá. Isso não tem preço e não há prazer maior, pois ainda sinto o suor e o cheiro da chuva molhando o meu rosto com a ajuda do vento gélido proveniente do Planalto da Borborema, como eu sentia nos tempos de outrora. Um verdadeiro amor à distância que se transforma em uma força que nunca cessa.
Mais de três décadas já se passaram, mas a saudade ainda é a mesma e esse amor à distância apenas cresce. Serei sempre um menino matuto, que um dia se encantou com o mar e ganhou o mundo, mas cujo coração nunca desceu a Serra das Russas e em Gravatá ficou. Isso é latente em mim, pois toda vez que regresso e ao passar pelo túnel de acesso à cidade, sinto uma emoção incomensurável que não consigo descrever.
Gravatá está dentro de mim e nunca sairá. Por mais que eu me atreva pelas veredas deste mundo de meu Deus, será sempre na terra de Justino Carreiro de Miranda que a minha alma descansará, encontrará a paz e o sossego. Serei sempre um filho da terra apaixonado pelas suas ruas simples, sua gente brejeira e acolhedora.
Gravatá das tradições juninas, do seu carnaval tímido, mas animado, dos pastoris, da ciranda, dos bailes do CDG, das noites frias e das tardes lentas. Tenho saudades e isso é bom, posto que somente assim manterei acessa a chama desse amor à distância que deu certo.
E aquela lágrima que outrora escorreu na hora da partida, nunca secou.
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