Postado em 11/07/22
“... Cego às avessas. Como num sonho, vejo o que desejo...” Caetano Veloso.
Certa vez, estava eu no Metrô de Toronto quando ouço alguém falando português em voz alta, como se estivesse querendo chamar a atenção dos demais passageiros para que todos vissem o quão orgulhoso aquele cidadão brasileiro se sentia em poder falar o seu idioma num país anglo-saxônico. Inútil luxo!
Esse orgulho se expande para a época de Copa do Mundo, onde os brasileiros daqui se espalham pelas ruas da cidade em brados retumbantes nos dias de jogos do Brasil.
Estamos no verão canadense. Esta é a época dos festivais culturais da cidade, os quais acontecem em vários bairros e todos são bem-vindos. Nessas festividades, é comum vermos brasileiros desfilando com a Bandeira Nacional do Brasil e vestidos com a camisas da Seleção Brasileira de Futebol.
Analisando esses três momentos de brasilidade, concluímos que o nosso povo é patriota. Será mesmo? O que há de fato, é uma necessidade grande de mostrar que são brasileiros para as outras etnias. Isso é muito contraditório, pois muitos brasileiros que vivem aqui fora, nem querem saber de contato com os compatriotas. Patriotismo para Inglês ver.
Já que querem mostrar que tem orgulho de serem brasileiros, por que então não demonstram isso quando estão no Brasil? Nem mesmo nas passeatas, o nível de patriotismo demonstrado pelos brasileiros é igual ao que se vê aqui fora. E por que isso? Por que o brasileiro não demonstra esse amor pelo país no seu dia a dia no Brasil? A resposta é simples: o Brasil tem seus alicerces, enquanto nação, fundados no individualismo, onde vale muito aquele velho ditado que diz: “Farinha pouca, meu pirão primeiro.”
E como agravante a tudo isso, podemos afirmar que o nosso povo tem uma tendência horrível de valorizar o que vem de fora e desprezar o que é nosso. Um bom exemplo disso, é o uso desacerbado de palavras inglesas nos anúncios comerciais, nos programas de televisivos e até mesmo por parlamentares. “A grama do vizinho é mais verde que a nossa”.
Se fôssemos um povo verdadeiramente patriota, certamente o Brasil não estaria tão polarizado e nem demonstrações de extremismos fariam parte do nosso cotidiano. Nem mesmo os corruptos teriam vida longa. Infelizmente, tudo isso não passa de uma utopia longínqua do seu fim, pois é público e notório que o brasileiro, de um modo geral, só gosta de mostrar o seu patriotismo quando tem algum estrangeiro vendo. Vontade de aparecer pura e simplesmente.
O patriotismo anda de mãos dadas com a união. No Brasil, em apenas duas ocasiões pudemos ver o verdadeiro patriotismo e a união darem o ar da graça: a primeira, foi na campanha pelas eleições diretas para Presidente e a segunda, aconteceu durante o processo de impeachment do ex-Presidente Collor. Quem não se lembra do Movimento dos Caras-Pintadas?
Não vale ir para as ruas protestar contra a corrupção, vestidos com a camisa da Seleção Brasileira de Futebol, pois nela, está o escudo da CBF, a qual é uma das entidades que estão mais mergulhadas em escândalos de corrupção. É preciso coerência para não passarmos recibo de bobos da corte.
“... Cego às avessas. Como num sonho, vejo o que desejo...” Caetano Veloso.
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