Postado em 15 de janeiro de 2024
O destino me levou para morar longe, mas o desejo de ver de perto a Cirandeira da Ilha da pedra que canta (Itamaracá)
Lembro-me bem daquelas noites de sábado em Gravatá nos anos 80, as quais sempre traziam consigo uma roda de ciranda que acontecia na Rua Joaquim Nabuco, por trás do Pátio da Feira. Colocava-se uma jangada no meio da rua e os brincantes dançavam Ciranda por horas a fio.
Eu sempre participava das Rodas de Ciranda em Gravatá, com o objetivo maior de ver Lia de Itamaracá, uma vez que a minha mãe sempre me dizia que Lia estaria presente no festejo. Infelizmente eu nunca vi a Lia...
O destino me levou para morar longe, mas o desejo de ver de perto a Cirandeira da Ilha da pedra que canta (Itamaracá), nunca saiu do meu horizonte. Lia de Itamaracá é Patrimônio Imaterial da Cultura de Pernambuco. Uma Mestra!
Ela acaba de completar 80 anos de vida e as comemorações se estenderão por todo o ano de 2024. Além disso, a nossa Cirandeira Maior será tema do enredo das Escolas de Samba Nenê de Vila Matilde, de São Paulo, e Império da Tijuca, do Rio de Janeiro. Ao lado de Alceu Valença e Claudionor Germano, Lia de Itamaracá será homenageada no Carnaval de Pernambuco deste ano.
Todas essas honrarias e homenagens à Lia de Itamaracá, são frutos de uma vida de muita luta, coragem, provações, preconceito e resiliência. Segundo a própria Lia: “Lia é resistente.” Somos todos gratos à persistência dessa mulher preta ancestral, pois com sua perseverança e luta, a Ciranda ganhou os palcos do Brasil e do Mundo, como um ato de justiça do próprio tempo... O tempo de Iemanjá...
Sempre imagino que o meu encontro com Lia será em uma noite de lua cheia, lá em Jaguaribe, na Ilha de Itamaracá. Quero encontrá-la na beira da praia, vestida de azul, ouvindo as quebradas do mar e tendo a nossa Mãe Iemanjá como testemunha desse encontro plural, ancestral... África!
E aquelas Noites de Ciranda em Gravatá não mais existem. Hoje, impera o silêncio nas noites de sábado por trás do Pátio da Feira. Mas continua viva, comigo, a batida cadenciada daquela Ciranda e a alegria dos brincantes, que dançavam ao redor daquela jangada no meio da rua... enquanto eu procurava em vão, pela presença sagrada de Lia...
Aos que trazem a Ancestralidade Africana na alma, ainda é possível ouvir o ecoar da Ciranda que era tocada aos sábados naquelas noites cheias de calor humano e cultura, e que hoje, são apenas lembranças que bailam com o vento do nosso imaginário, nas noites frias... em Gravatá!!! ODOYÁ!!!
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