Sentávamos à beira da fogueira para assarmos milho e conversarmos noite a dentro, até sentirmos o açoite do vento frio vindo do Planalto da Borborema, tendo a fogueira como cobertor.
Quem me dera voltar no tempo e poder viver e sentir o verdadeiro São João. O São João de antigamente. Que maravilha era poder fazer a fogueira, enfeitar a casa, a rua onde morava e participar do concurso da rua mais enfeitada. Lembro que a Rua 21 de Abril ganhava sempre.
Lembro que quando chegava a noite, acendíamos a fogueira e ficávamos a esperar os balões que cortavam o céu de Gravatá. Sentávamos à beira da fogueira para assarmos milho e conversarmos noite a dentro, até sentirmos o açoite do vento frio vindo do Planalto da Borborema, tendo a fogueira como cobertor. À medida em que as fogueiras começavam a se apagar, a cidade adormecia e apenas o som do Forró trazido pelo vento se fazia ecoar. Era o Forró vindo dos palhoções. Havia um certo lirismo no ar; havia tradição e respeito por ela.
Hoje, todos nós que vivemos as Festas Juninas de outrora, ficamos indignados com o rumo desajeitado que essa tradição tão nossa, tão embrionária das nossas raízes, tomou. Um bom exemplo disso, são as “quadrilhas juninas,” que se transformaram em um espetáculo que mais lembra uma ala de Escola de Samba e nem de longe, representa o São João.
Com todo respeito ao Samba, mas tradição é tradição e não pode ser mudada, pois perde a sua identidade, a sua originalidade. Essas quadrilhas de hoje se apresentam de forma luxuosa, com carros alegóricos e efeitos especiais, para parecerem bonitas e, portanto, se encaixarem no padrão da mídia oportunista e seus concursos anuais. Cadê a originalidade da quadrilha matuta? Será que esse pessoal sabe o que é isso?
Partindo para o lado musical, a conjuntura ainda piora, pois o que vemos são bandas que se dizem de Forró com letras de gosto bastante duvidoso, quando não de duplo sentido, que se apresentam em mega espetáculos, protagonizados por “cantores” de óculos escuros e “cantoras” vestidas com roupas sensuais. E pensar que Luis Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Trio Nordestino, foram pioneiros em levar o Forró para o resto do Brasil, no intuito de quebrar as barreiras do preconceito com a Música Nordestina. Décadas depois, essas bandas aparecem para estragar tudo.
A nossa língua, a Língua Portuguesa, é a nossa maior identidade. Em combinação com as nossas tradições, acaba por germinar um casamento perfeito e muito nos representa de verdade, pois isso se chama cultura. E a nossa verdadeira Cultura Nordestina vem de muito longe no tempo e não pode ser mutilada dessa forma.
Há quem diga que em Gravatá (PE), ainda é possível ver essas tradições de antigamente nos bairros periféricos, em bem menor número claro. parecendo um gueto de resistência, quando na verdade essa tradição deveria ser protagonista do palco principal do Pátio de Eventos. Cultura e Tradição fazem bem à nossa Identidade Nordestina e não tem contra-indicação.
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