Foto: Mayke Toscano/Gcom-MT.Fonte Diario de Pernambuco.
A procuradora-geral, Raquel Dodge, afirmou, nesta segunda,
2, que o crime organizado é responsável pelo desmatamento da Floresta
Amazônica. Segundo ela, informações apuradas pelo Ministério Público
Federal revelam "indícios da existência de associação entre os grupos
que derrubam a mata e os compradores de madeira no exterior, para onde
segue grande parte do produto extraído ilegalmente no território
nacional".
As informações foram divulgadas pela Secretaria de Comunicação Social da Procuradoria.
Segundo
a PGR, "para reverter o problema, é preciso valorizar o papel do
Ministério Público dentro do sistema penal acusatório e investir em
mecanismos de cooperação internacional que levem em conta as
características de cada tipo de delito, com ações tanto no plano
doméstico quanto no internacional".
As
declarações de Raquel foram feitas na solenidade de abertura da reunião
de trabalho entre procuradores do Ministério Público Federal
representantes da Eurojust (Unidade de Cooperação Jurídica da União
Europeia).
O evento ocorre nesta segunda, 2, e na terça, 3, na sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília.
Ao avaliar o tema do desmatamento no Brasil, Raquel destacou que ‘é preciso enfrentar a questão como fenômeno transnacional’.
"As
informações que temos é de uma associação estreita entre quem desmata e
quem compra madeira", afirmou a procuradora-geral. "Entre quem desmata,
e põe fogo na mata, e quem usa essa madeira no exterior. [A madeira]
não é usada só no território brasileiro. Aliás, é poucas vezes usada no
território nacional. Inclusive, porque o porto do escoamento é no Norte
do Brasil, não é para dentro do Brasil."
Segundo ela, o empreendimento de desmatamento é muito oneroso.
"Porque
adentrar a floresta, desmatá-la numa primeira fase com uso de mão de
obra escrava, carregar aquelas toras, encaminhá-las pelo rio até chegar
ao porto, transportá-las de navio até o exterior é obra de uma
organização e de um engendramento que não é fruto de coautoria, de uma
ação ocasional não planejada", ressaltou a chefe do Ministério Público
Federal.
Raquel ainda reforçou a necessidade da
implementação de ações de cooperação entre o Ministério Público
brasileiro e autoridades estrangeiras.
Ela
defendeu o enfrentamento da corrupção e à lavagem de dinheiro ‘com
instrumentos que vedem transferência dissimulada para o exterior, de
valores do patrimônio público brasileiro’.
"Inclusive,
porque os outros países têm sido santuário do desvio do dinheiro do
patrimônio público brasileiro. Se não houver cooperação para que os
países europeus não sejam o destino desse dinheiro desviado do nosso
patrimônio público, essa corrupção continuará a ser praticada",
asseverou a procuradora.
A procuradora abordou, ainda, os altos índices de violência no País.
Para ela, o crime organizado é responsável por grande parte dos 65 mil homicídios que ocorrem por ano no Brasil.
Muitas dessas mortes são relacionadas ao tráfico internacional e ao tráfico doméstico de drogas.
"O Brasil não é produtor da maioria da droga associada ao tráfico internacional", observou.
Papel
do Ministério Público - Raquel fez defesa veemente do papel do
Ministério Público dentro do sistema penal acusatório, que é o adotado
no Brasil, e no qual há distinção entre o órgão acusador, a defesa e o
juiz imparcial.
Ela criticou o que chamou de
‘amarras impostas’ aos Ministérios Públicos em diversas partes do mundo,
disse ser importante o intercâmbio de informações, previsto em leis e
necessário para o ajuizamento de denúncias, pedidos de busca e
apreensão, e autorizações de interceptações telefônicas que aprofundem a
investigação.
"É avanço importantíssimo termos
um órgão que acusa, outro que defende, e o juiz que julga", declarou a
procuradora-geral. "E por que o protagonismo do juiz no enfrentamento do
crime organizado, sendo que o papel dele é de neutralidade? Ele vai
receber a prova das duas partes. É preciso enfatizar a cooperação dentro
do sistema de Justiça, mas dando a cada ator, considerando o sistema
penal acusatório, o papel de preponderância que tem. E nesse ambiente, o
Ministério Público precisa ter o papel destacado que a Constituição e
as leis do Brasil lhes confere.
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