Foto: Divulgação/Mauro Vieira.
Após a suspensão de um edital de projetos LGBT para TVs
públicas, o Secretário especial de Cultura, Henrique Pires, anunciou que
deixará o cargo por não admitir que o governo imponha "filtros" na
cultura.
Pires comunicou o ministro Osmar
Terra (Cidadania), a quem a secretaria é vinculada, sobre sua saída na
noite de terça-feira (20). Em rápida conversa com a reportagem no
Palácio do Planalto, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, negou que
haja censura.
"Não foi censura, eu estou aqui
para resolver isso porque estava com problemas de trabalho", disse o
ministro, acrescentando que uma nota deve ser divulgada por sua pasta
ainda nesta quarta-feira (21).
As informações
divergem do relato feito por Pires à Folha de S.Paulo. Segundo ele, a
suspensão do edital foi apenas a "gota d'água" de uma série de
tentativas do governo de impor censura em atividades culturais.
Ele disse que há oito meses vem dando contornar diversas tentativas de censura.
"Ficou
muito claro que eu estou desafinado com ele [Terra] e com o presidente
sobre liberdade de expressão", disse o secretário. "Eu não admito que a
cultura possa ter filtros, então, como estou desafinado, saio eu".
O secretário disse ter mantido uma conversa amigável com Terra na noite de terça (20), durante a qual comunicou sua saída.
"Nós
precisamos pacificar o Brasil para trabalhar, e tem gente que não está
preocupada, como se não tivéssemos 13 milhões de desempregados e [a
gente] precisasse ficar olhando com lupa um filme para ver se tem um
homem pelado beijando outro homem."
Pires disse
que fundamentou todo seu trabalho no artigo 220 da Constituição
Federal, se pautando sobre a liberdade de expressão e lembrou que
recentemente o STF concluiu julgamento que prevê homofobia como crime.
"Eu
não estou saindo contra ninguém, estou saindo a favor da liberdade de
expressão", disse. "Ou eu me manifesto e caio fora, ou estarei sendo
conivente".
Alvo de críticas do presidente Jair
Bolsonaro (PSL) em sua última live semanal, veiculada na quinta passada
(15), um edital de chamamento de projetos para TVs públicas que tinha
entre as categorias de investimento séries com temática LGBT foi
suspenso. Uma portaria assinada pelo Ministro da Cidadania Osmar Terra
publicada no Diário Oficial da União (DOU) nesta quarta (21) oficializou
a decisão.
Na live, o presidente havia
criticado quatro projetos de séries aprovados para a última fase do
concurso e inscritos nas seções de diversidade de gênero e sexualidade.
Eram eles "Afronte", "Transversais", "Religare Queer" e "Sexo Reverso".
Caso
aprovados por uma comissão especial, os projetos seriam contemplados
com verbas de R$ 400 mil a R$ 800 mil cada um, oriundas do Fundo
Setorial do Audiovisual (FSA).
O caso acontece
depois de uma série de declarações em que Bolsonaro promete intervir no
teor das produções financiadas por meio da Agência Nacional do
Audiovisual, a Ancine, seja criando um filtro ou tirando o FSA do
controle da agência, entre outros. Na live, ele chegou a afirmar que se o
órgão "não tivesse, em sua cabeça toda, mandatos", ele já teria
"degolado tudo".
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