Colombiano naturalizado brasileiro, Ricardo Vélez Rodríguez aparenta ser um homem educado. Foi assim que ele se comportou, ontem, durante as horas em que esteve no Cinema do Museu, no Recife, para empossar Alfredo Bertini na Fundação Joaquim Nabuco. A Fundaj é ligada ao Ministério da Educação, pasta para qual Vélez foi nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro atendendo a uma indicação de Olavo de Carvalho, filósofo-ideólogo-guru-mor do Bolsonarismo. Um pouco tímido, de movimentos calculados, fez questão de cumprimentar a todos que a vista alcançava. Quando teve a palavra, falou pouco (cerca de seis minutos) e preferiu enaltecer unanimidades, dando uma aula sobre a contribuição de Gilberto Freyre e de Nabuco para entendermos o Brasil de ontem e de hoje. Evitou, contudo, mais uma polêmica, a exemplo da sua entrevista ao jornal Valor Econômico.
Tudo dentro do script para a primeira visita de um ministro de Jair Bolsonaro a Pernambuco. Inclusive, pela blindagem que equipe do MEC impôs, impedindo Vélez de dar entrevista ao final do ato, quando ele seria questionado por que considera as universidades espaços para uma “elite intelectual” e não para todos? Uma declaração que lhe rendeu uma chuva de ataques, sobretudo de políticos do PT. Ou como ele vê a influência de Olavo de Carvalho no governo? Ou, ainda, o que ele achou do erro de português cometido pelo presidente do Inep , Marcos Vinícius Carvalho Rodrigues, que não soube aplicar o plural da palavra “cidadão”? Ficou a imagem superficial de um ministro cuja assessoria tenta impedir que ele fale besteira.
Na fala oficial, quando o assunto era Gilberto Freyre, ele deu show. “Com Gilberto vamos encontrar, certamente, uma Sociologia que tenta abarcar a realidade brasileira como totalidade. Duas grandes áreas de reflexão e da pesquisa: o homem rural em ‘Casa Grande e Senzala’; e o homem urbano, em ‘Sobrados e Mucambos’. Encontramos, portanto, um arquétipo da reflexão científica que nos possibilita aprofundar a diversidade que é a nossa sociedade. Encontramos uma previsão holística da realidade brasileira que se distancia das visões diacrônicas ou das visões que tentam simplificar nossa realidade”, explicou Vélez, na presença de familiares do sociólogo.
E seguiu o ministro: “Perante essa globalização, certamente Joaquim Nabuco nos apresenta uma visão corajosa das nossas relações internacionais. Cogita a presença do Brasil no mundo à maneira corajosa e destemida como os navegadores portugueses colocaram a pequena nação Portugal no contexto universal”, argumentou Vélez, arrancando aplausos da plateia, que saiu do evento com a certeza do seu conhecimento sobre os dois pernambucanos ilustres; mas impedida de saber suas opiniões a respeito de outros temas tão importantes para o Brasil do presente.
Olhar para o futuro - Ao contrário do ministro da Educação, o novo presidente da Fundaj, Alfredo Bertini, citou nominalmente o nome de Jair Bolsonaro no seu discurso. Bertini se comprometeu com o resgate da perspectiva histórica do órgão. Destacou um olhar para o futuro sem perder as referências do passado, em uma ação com três vértices: Fundaj, Sudene e Banco do Nordeste. Mostrou conhecimento e já deixou claro que tem um norte para a fundação.
Parcerias - Antes do evento na Fundaj, Ricardo Vélez foi ao Palácio reunir-se com o governador. Em pauta, parcerias na Educação. À tarde, Paulo Câmara foi à Brasília, onde teve audiência com o titular da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. O socialista foi bem recebido pelo ministro, de perfil técnico. Na próxima semana, as equipes dos dois se reunião para tratar da autonomia de Suape, Transnordestina e da duplicação de um novo trecho da BR-232.
Na cartilha - A posse de Alfredo Bertini na Fundaj seguiu a cartilha do novo governo. O fundo de palco já continha a marca da gestão aplicada em um painel com uma foto de Gilberto Freyre, criador da fundação. Todos de pé em “posição de respeito” para os hinos de Pernambuco e do Brasil, bem como a presença de uma interprete de Libras. Participaram, além da família do dirigente, os ex-governadores Joaquim Francisco, que colocou Bertini na política, e Gustavo Krause; reitores, secretários e servidores.
Best-seller intergaláctico - A coluna apresenta a você, nobre leitor, uma grande promoção deste best-seller intergaláctico da foto. Para traduzir a magnitude da obra, ninguém melhor que a própria biografada. “Só repasso porque o livro é ótimo e está na promoção. De 39,90 por R$ 2,99. Eu não acho que quem comprar ou quem perder de comprar, nem quem comprar nem perder de comprar, vai comprar ou perder de comprar. Vai todo mundo perder se comprar!”
Curtas -
CHUVAS - Chegará o dia em que vai se chover neste estado e as cidades estarão preparadas para a água que cairá. Por enquanto, infelizmente, ainda reina o mesmo despreparo de sempre das gestões municipais, do Litoral ao Sertão. Essa foi a realidade mais uma vez observada, ontem, com as fortes chuvas registradas. As imagens que circularam durante todo o dia comprovaram o perrengue.
REZA OU AGOURO? – Renan Calheiros utilizou o Twitter para dizer que estava rezando pela saúde de Jair Bolsonaro durante a cirurgia de retirada da bolsa de colostomia. Citou que também estava em Brasília no dia em que Tancredo Neves morreu. Aí eu pergunto: é reza ou agouro? Em tempo: a cirurgia transcorreu bem, apesar de mais demorada do que o normal.
APLICATIVO - Na moda do aplicativo, o deputado federal eleito Fernando Rodolfo vai lançar um aplicativo pelo qual os usuários poderão acompanhar os gastos do seu gabinete; e sugerir propostas que podem virar projetos de lei caso obtenham o apoio de outros dez mil usuários. É tipo assim: ganhou muita curtida pode virar lei. Imagina se a moda pega...
Perguntar não ofende: até quando os municípios vão sofrer com falta de estrutura em decorrência das fortes chuvas que caem no estado?
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