Ações foram autorizadas após suspeitas de atividade irregular de campanha e geraram reações contrárias por parte de instituições, professores e alunos.
Universidades públicas de ao menos sete estados brasileiros foram alvos
de operações autorizadas por Tribunais Regionais Eleitorais. As ações
aconteceram para averiguar denúncias de campanhas político-partidárias
que estariam acontecendo dentro das universidades.
Segundo levantamento do G1,
as ações aconteceram em 13 instituições no Rio de Janeiro, Paraíba,
Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Ceará e Mato
Grosso do Sul entre os dia 23 e 25 de outubro.
As operações apreenderam material de campanha de Fernando Haddad (PT)
em algumas universidades, além de manifestos, HDs de computadores de
associação de docentes e faixas contra o fascismo.
As ações e notificações da Justiça Eleitoral geraram reação de
universidades, centros acadêmicos, professores e estudantes nas redes
sociais. Em nota divulgada em uma rede social, a União Nacional dos
Estudantes (UNE) fala em ação de "arbitrariedade. A Associação dos
Docentes da Universidade Federal de Campina Grande informou que o
manifesto apreendido não fazia referência a qualquer candidato, após
computadores de professores serem apreendidos pela PF.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou por meio da assessoria de
imprensa que as autorizações das operações não partiram da Corte nem
houve qualquer orientação sobre o caso. Mas está avaliando se vai se
manifestar a respeito.
Nesta sexta-feira (26), o Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Gilmar Mendes pediu "cautela" quando questionado sobre essas operações
durante uma palestra em São Paulo.
"A universidade, como um todo, é bastante vital e, todos nós que
passamos pela universidade um dia, sabemos que elas são extremamente
vitais. Temos que lidar com isso com um certo espírito de compreensão e
de tolerância, não são todas as manifestações que traduzem manifestações
de apoio. É claro que existem as regras que todos nós conhecemos, a
chamada igualdade de oportunidades e igualdade de instâncias, porque, em
especial na esfera pública, não pode haver preferência a um ou outro
candidato. Mas é preciso ver tudo com cautela para que não caiamos no
exagero ou em alguma exorbitância", declarou.
O ministro Marco Aurélio Melo, também do STF, afirmou que "universidade
é campo do saber. O saber pressupõe liberdade, liberdade no pensar,
liberdade de expressar ideias. Interferência externa é, de regra,
indevida. Vinga a autonomia universitária. Toda interferência é, de
início, incabível. Essa é a óptica a ser observada. Falo de uma forma
geral. Não me pronuncio especificamente sobre a atuação da Justiça
Eleitoral. Mas reconheço que a quadra é de extremos. Por isso é
perigosa, em termos de Estado Democrático de Direito. Esse é o meu
pensamento."
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção do Rio de Janeiro,
divulgou nota nesta quinta (25) dizendo que "a manifestação livre, não
alinhada a candidatos e partidos, não pode ser confundida com propaganda
eleitoral". E alertou sobre "precedentes preocupantes e perigosos para a
democracia".
"Quaisquer restrições nesse sentido, levadas a efeito, sobretudo, por
agentes da lei, sob o manto, como anunciado, de “mandados verbais”,
constituem precedentes preocupantes e perigosos para a nossa democracia,
além de indevida invasão na autonomia universitária garantida por nossa
Constituição", diz o comunicado da OAB.
No Rio de Janeiro, na Universidade Federal Fluminense (UFF), uma faixa
no prédio da Faculdade de Direito com os dizeres "Direito UFF
Antifascista" foi retirada após a visita de agente do TRE-RJ. A ação foi
tomada depois que a juíza Maria Aparecida da Costa Bastos avaliou uma
ação popular movida pelo vereador Carlos Jordy (PSC) sobre propaganda
eleitoral irregular no campus.
Na Universidade Estadual da Paraíba, fiscais vistoriaram os auditórios
do campus, em Campina Grande, na quarta-feira (24). Segundo a Associação
de Docentes da UEPB (ADUEPB), um auditório em que acontecia a exibição
de um filme na disciplina de Ética foi vistoriado e a professora foi
questionada sobre o conteúdo.
De acordo com o juiz da 17ª zona eleitoral Horácio Ferreira de Melo
Júnior, os oficiais de justiça foram até o campus da UEPB para verificar
uma denúncia de que estariam acontecendo manifestações
político-partidárias.
Em outros casos, não houve visita de agentes, mas notificações
judiciais foram expedidas para cancelar eventos com possível teor
partidário que pudessem acontecer nos campi universitários. Foi o caso
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde após
notificação da Justiça Eleitoral, um evento com Guilherme Boulos (PSOL) e
outros políticos mudou de local e deixou de acontecer dentro da
universidade.
Fonte G1
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