Postado em 28/10/21
"para a minha maior surpresa, o que pude ver foi um ambiente triste, silencioso e sem vida. Não havia repentistas, emboladores, curadores de cobra... senti tristeza..."
Aqueles dias eram mágicos para mim e para muitos da minha geração. Gravatá se transformava em um turbilhão de gente, cores, cheiros e sabores durante o dia da feira maior, que até hoje acontece aos sábados. Recordo ainda, o quanto era bom ver toda aquela gente vinda de todos os cantos da cidade e das cidades vizinhas, para prestigiar a nossa feira.
Naqueles tempos, a Feira de Gravatá tinha muitos atrativos e muita, mas muita cultura popular espalhada por toda parte. Quando menino, ver todas aquelas manifestações folclóricas me traziam um prazer matuto, inebriador; como um encanto, que até hoje está guardado no canto do meu coração, latejando um pulsar alegre na minha alma brejeira.
Entre tantas atrações que havia na feira, tinha uma que me chamava mais atenção, que eram os repentistas e os emboladores. Ver aqueles artistas cantando no meio do povo as suas Rimas Ricas e Versos Alexandrinos, era como se um livro de poesia falado ecoasse por todos os cantos daqueles sábados sagrados.
Há cerca de 8 anos, de passagem por Gravatá, fui visitar a feira na intenção de comprar Literatura de Cordel e poder rever tudo que outrora me emocionava e quem sabe poder matar a saudade daqueles sábados movimentados, barulhentos e alegres. Infelizmente, para a minha maior surpresa, o que pude ver foi um ambiente triste, silencioso e sem vida. Não havia repentistas, emboladores, curadores de cobra... senti tristeza...
Depois de muito procurar, encontrei Literatura de Cordel. Após comprar todo o estoque da banca, perguntei ao vendedor, pelos repentistas e obtive a seguinte resposta: “Meu senhor, não há mais interesse por esse tipo de cultura. Isso não é mais passado para os mais jovens e por isso está morrendo.”
A desfiguração da Feira de Gravatá, assim como das nossas festas tradicionais, como a Festa de Reis, são o resultado de gestões que sempre objetivaram o “pão e circo,” deixando de lado as nossas tradições culturais. Precisamos urgentemente mudar essa triste realidade.
Deixem a Cultura Gravataense voltar aos seus dias áureos. Para isso, será preciso um movimento cultural de verdade, onde o folclore volte a ser ensinado a partir das escolas, como era nos tempos de outrora, assim como a promoção dos nossos artistas populares.
Chega desse modernismo sem forma, a onde o que vem de fora é mais bonito e o que é nosso, não é valorizado e sempre é deixado de lado... do lado de fora da feira, a viver das migalhas deixadas na xepa cultural. Chega de viver a "Severina".
Alusão ao livro Morte e Vida, Severina, de João Cabral de Melo Neto.
Perfeita. Ao ler a história da feira de Gravatá, senti na alma o quanto foi maravilhoso naquela época para os Gravataenses. Espero em Deus que volte o mais breve possível a alegria que era proporcionada com os músicos tradicionais. Me transportei ao ler o texto.
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