DUAS PESQUISAS APONTAM MANCHA EM IMAGEM DE SATÉLITE; MARINHA E IBAMA NEGAM RELAÇÃO COM ÓLEO DO NORDESTE.
Dois pesquisadores de grupos diferentes ligados a universidades federais brasileiras – a de Alagoas (Ufal) e a do Rio de Janeiro (UFRJ)
– divulgaram nesta quarta-feira (30) imagens de uma mancha, de 200 km²,
que têm características parecidas com as do óleo que tem surgido nas
praias do Nordeste.
A mancha foi vista a 50 km do litoral da Bahia. Ela possui superfície
lisa, compatível com o efeito que o óleo causa ao quebrar a tensão
superficial da água. As bordas são bem definidas e não tem redemoinhos, o
que descartaria possíveis relações com materiais vindos da decomposição
de corais, por exemplo, segundo um dos especialistas ouvidos pelo G1.
A Marinha informou, em nota, que fez análises e descartou a relação com as manchas de óleo que poluem as praias do Nordeste (leia a íntegra abaixo).
O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, disse na manhã desta
quarta em
Belém (PA) que acha "difícil" que a mancha identificada tenha
relação com os casos do Nordeste devido às características do óleo
encontrado nas praias, que é mais pesado e e não flutua na superfície.
"É muito difícil, porque é um óleo grosso, que se desloca por meio das
correntes marítimas, mas que fica a 'meia água'. Por conta disso, os
radares e satélites não identificam as manchas. Mesmo visualmente, as
nossas aeronaves têm dificuldade de identificar", afirmou Silva.
Uma nota técnica do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama)
afirma que a análise da imagem descarta relação com as manchas de óleo.
"(...) Não foi considerada uma feição suspeita de poluição por óleo
pelos Analistas Ambientais, sendo apenas mais uma feição de
falso-positivo, por não apresentar padrões texturais e técnicos
apropriados", diz um trecho da nota técnica.
As análises das imagens feitas pelos pesquisadores ainda não permitem
aprofundar as investigações sobre as características desta mancha
captada pelo satélite.
Desde o dia 30 de agosto, mais de 250 locais já foram atingidos pelas manchas de óleo. Análises apontam que se trata de petróleo cru, com “DNA” da Venezuela. Nesta quarta completam-se 2 meses do surgimento das manchas, sem que o governo saiba qual a origem da poluição.
Imagem do satélite Sentinel mostra mancha com características de óleo a
50 km da costa da Bahia
Foto: Arquivo pessoal/José Carlos Seoane.
Uma
possível explicação para a mancha é se tratar de material produzido por
corais, chamado de biofilme. “Pode até ser, mas eu nunca vi um de 200
km². Não quer dizer que não exista, mas precisa ir lá e verificar” –
José Carlos Seoane, da UFRJ.
A hipótese de Seoane levanta a dúvida sobre o que é o material
encontrado no mar, mas o pesquisador afirma que não pode assegurar se
tem relação com as manchas que estão surgindo no Nordeste.
Pesquisa aponta que vazamento de óleo ocorre abaixo da superfície no Sul da Bahia.
O pesquisador Humberto Barbosa, do Laboratório de Análise e
Processamento de Imagens de Satélite (Lapis) da Ufal, também encontrou a
mesma imagem analisando os dados do satélite Sentinel.
Entretanto, diferentemente da análise da UFRJ, Barbosa vai além e levanta a hipótese de que a mancha de óleo tenha vindo de um 'grande vazamento em minas de petróleo'.
A região analisada pelo pesquisador está perto de áreas de exploração
de petróleo, conforme mapeamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (ANP).
"Ontem
tivemos um grande impacto, pois pela primeira vez, encontramos uma
assinatura espacial diferenciada. Ela mostra que a origem do vazamento
pode estar ocorrendo abaixo da superfície do mar. Com isso, levantamos a
hipótese de que a poluição pode ter sido causada por um grande
vazamento em minas de petróleo ou, pela sua localização, pode ter
ocorrido até mesmo na região do pré-sal", diz Barbosa.
Íntegra da nota da Marinha
“Em
relação à possível mancha que estaria avançando pelo mar da Bahia,
informamos que não se trata de óleo. Foram feitas quatro avaliações para
confirmar: consulta aos especialistas da ITOF [Federação Internacional
de Poluição por Petroleiros], monitoramento aéreo e por navios na região
e por meio de satélite.
É
importante frisar que a gravidade, a extensão e o ineditismo desse
crime ambiental exigem constante avaliação da estrutura e dos recursos
materiais e humanos empregados, no tempo e quantitativo que for
necessário.
Segundo especialistas do ITOF, ela possui diversas características, podendo ser nuvem, fenômeno da ressurgência no mar etc.”
Por telefone, um porta-voz do Grupo de Avaliação e Acompanhamento esclareceu mais alguns pontos:
“Não
sendo óleo, podem ser diversos tipos de mancha. Podem ser nuvens,
ressurgências dentro da água, algas, essas coisas têm diversas outras
características. De imediato, para a urgência do caso, chegamos à
conclusão que não é óleo. Foram feitas inspeções no local por meio de
navios, monitoramento aéreo na região, no local, e além disso
consultamos especialistas da ITOF, uma organização internacional. É como
se você verificasse se um tumor é benigno ou maligno. Tem
características definidas. Por isso podemos afirmar que não é óleo.”
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