Desde 2 de setembro, registrou-se derramamento da substância em praias nordestinas -
Foto: Reprodução/WhatsApp.
A mancha de óleo que se espalha por 2 mil quilômetros da costa
brasileira já atinge 109 pontos desde o Maranhão até Sergipe e afeta
alguns dos destinos mais visitados do País. É o caso das praias de Pipa
(Rio Grande do Norte), Maragogi (Alagoas), Tamandaré (Pernambuco) e do
Futuro (Ceará), cuja economia depende da indústria turística, segundo
relatório do Ministério do Turismo. Nos nove Estados da região, só a
Bahia não foi contaminada pela substância viscosa.
Dono de lojas de suvenir na orla de Pipa, George Policarpo diz que
não dá para calcular prejuízo com acidente. "Quando o turista percebe as
manchas, ele vai ter péssima imagem do local e vai achar que é descuido
da região, que depende disso. O impacto aqui será maior a médio e a
longo prazo. As pessoas que vierem agora vão levar em consideração
isso", pensa.
Suely Gomes trabalha em um
restaurante na orla de Maragogi, outra praia atingida, e se preocupa com
o proporção do vazamento no litoral. "O maior problema é para quem quer
ir para as galés e a mancha pode afetar isso". Área de preservação, as
piscinas naturais de Maragogi, também conhecidas como galés, são uma das
maiores unidades de conservação marinha do País e carro-chefe do
turismo na região.
"Apesar de não se notar
tanto nas praias a mancha, isso vai afetar bastante a gente, porque o
pessoal vai ficar com medo e quem fizer a reserva vai cancelar. Claro
que o meio ambiente é importante, mas a situação financeira da cidade
vai despencar", teme Ana Carla Silva, que trabalha em outro restaurante
de Maragogi, principal cidade do litoral norte alagoano.
Na
praia de Carneiros, em Tamandaré, uma das mais visitadas em Pernambuco,
Adriano Farias trabalha no comércio e espera que ocorra vigilância
sobre produtos marítimos contaminados. "O acidente repercute mal para
toda orla. Essa situação foi séria e só vem diminuir a nossa atividade. A
gente precisa da conservação e do cuidado com o meio ambiente para não
acontecer mais isso", explica.
De acordo com o
Secretário de Turismo do município de Jericoacoara, Ricardo Gusso,
apesar do aparecimento de algumas manchas, nenhuma atividade na Vila de
Jericoacoara foi prejudicada. O impacto maior foi na fauna marinha: uma
tartaruga-oliva foi encontrada coberta de óleo.
"Esta
semana o movimento foi bem diferente. Bem devagar. Caiu em torno de
20%, mas não sabemos se foi por conta das manchas de óleo ou por outros
fatores", relata Michelly Amaral, proprietária de uma das barracas da
Praia do Futuro.
Desde 2 de setembro,
registrou-se derramamento da substância em praias nordestinas, chegando a
Pirambu, Barra dos Coqueiros e Ponta dos Mangues, em Sergipe, esta
semana. Estudo feito pela Petrobras indicou que o produto encontrado é
petróleo cru e não foi produzido no Brasil. A companhia também nega
responsabilidade sobre o acidente.
Até o
momento, não se sabe a origem e o responsável pelo vazamento de petróleo
no Nordeste, mas os órgãos ambientais acreditam que uma embarcação
tenha despejado a substância ilegalmente em alto-mar.
O
óleo traz consequências diretas para o ecossistema das praias e, até
agora, atingiu dez animais (entre tartarugas marinhas e uma ave), dos
quais sete morreram, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O
contato com o produto também pode levar a sérios problemas à saúde de
moradores e turistas. Mônica Costa, professora do Departamento de
Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco, afirmou à reportagem
que locais afetadas pelo vazamento devem ser fechados para proteger a
vida das pessoas.
Apesar de a pesquisadora não
aconselhar o consumo de alimentos produzidos nessas áreas, até que se
conheçam detalhes sobre a origem e a composição da substância, órgãos
estão prevenindo banhistas sobre recolhimento do poluente.
O
Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) do Rio
Grande do Norte, por exemplo, emitiu nota em que pede para população
evitar contato com o petróleo e, se houver, "tentar retirar primeiro com
gelo ou com óleos de cozinha, devendo, logo após, lavar a pele com água
e sabonete neutro". A medida é vista como "preventiva" pelo instituto
já que o piche provoca irritações e alergia no corpo.
O
petróleo cru é rico em benzeno, xileno e tolueno, causando náusea,
visão turva, euforia e vertigem quando em contato com mãos, olhos e
boca. Além disso, as neurotoxinas do óleo podem afetar o funcionamento
cerebral a longo prazo.
"Em função disso, é
importante que a coleta seja feita utilizando-se ferramentas como
rastelos e pás, acondicionando provisoriamente o material em recipientes
plásticos, enquanto o produto não for retirado do local, procurando
proteger-se do contato direto com o resíduo, não podendo ser retirado
por tratores", instrui a nota do Idema.
Ibama,
Corpo de Bombeiros, Marinha do Brasil e Petrobras estão investigando a
situação. Segundo o Ibama, uma equipe de 100 pessoas está trabalhando
com medidas paliativas na costa durante a semana.
Sobre
a fiscalização de produtos vindos de área costeira manchadas pelo
poluente, a reportagem entrou em contato com a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, mas não obteve resposta até a publicação desta
matéria. A Agência Sanitária de Sergipe, por meio da gerência de
alimentos e da saúde ambiental, negou responsabilidade sobre o caso.
Não houve resposta de outras agências de vigilância sanitária locais.
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