Entre janeiro e agosto deste ano, 2,2 milhões de brasileiros deixaram o emprego por vontade própria.
Embora o mercado de trabalho esteja muito distante do seu melhor
momento, a retomada da criação de vagas formais, ainda que em ritmo
lento, já tem desencadeado uma movimentação entre os trabalhadores:
neste ano há mais brasileiros trocando de emprego por vontade própria.
Brasileiros estão conseguindo trocar de emprego de forma espontânea.
Entre janeiro e agosto, 2,253 milhões de brasileiros pediram demissão
de forma espontânea das empresas. O número equivale a 23% do total de
desligamentos registrados no país no período, segundo dados do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
Neste ano, há uma ligeira aceleração quando se observa o retrato de
2017. Entre janeiro e agosto do ano passado, 2,105 milhões - ou 21% -
dos trabalhadores pediram demissão por vontade própria.
Até agosto deste ano, o Brasil criou 568.551 empregos com carteira assinada em todo o país. A expectativa é que o país encerre o ano com saldo positivo, apesar de as expectativas estarem sendo revisadas para baixo diante do crescimento mais fraco.
Se os números positivos forem confirmados, será a primeira vez que a
economia brasileira vai criar vagas formais de trabalho desde 2014.
"Com a retomada do mercado de trabalho, ainda que mais fraco do que o
esperado, a quantidade de pessoas que muda de emprego tende a subir",
afirma o professor do Insper Sergio Firpo.
A demissão espontânea costuma acompanhar os movimentos de melhora e
piora do mercado de trabalho. Nos períodos em que o Brasil gerava muitos
postos de trabalho, a demissão espontânea chegou a responder por 30%
dos desligamentos registrados. Com a crise, a fatia dos trabalhadores
que se desligava por vontade própria chegou a cair para 20%.
No ano passado, com a menor destruição de vagas - o país fechou 20 mil
postos -, os desligamentos por decisão do trabalhador já apresentaram um
ligeiro crescimento em relação ao total das demissões.
Números em %; dados entre janeiro e agosto de cada ano
"Inicialmente, quem costuma se beneficiar com esse tipo de movimento é
aquele trabalhador mais qualificado", afirma Fernando de Holanda Barbosa
Filho, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação
Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “Não é necessariamente aquele trabalhador com
mais qualificação formal, mas aquele que entende muito do trabalho que
faz.”
Os dados do Caged apuram o comportamento do emprego formal no país e,
por isso, são diferentes da taxa de desemprego divulgada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que também apura o
comportamento do emprego informal.
Quantidade de trabalhadores que se demitiu por vontade própria; entre janeiro e agosto de cada ano
Rede de contatos ajuda na troca
A psicóloga Mariana Amaral demorouA psicóloga Mariana Amaral demorou um ano para conseguir mudar de
emprego. Na antiga empresa, onde trabalhou por quatro anos, ela conta
que não tinha qualidade de vida. Chegou a fazer duas entrevistas antes
de conseguir o emprego atual, mas as possibilidades que apareceram “não
mudariam a sua rotina estressante de trabalho”.
"Consegui o novo emprego pela minha rede de contatos. Isso foi
extremamente importante. Em plataformas online, tive pouco retorno”, diz
Mariana. “Emocionalmente falando estou menos cansada no meu novo
emprego. Meu trabalho está apenas a meia hora de casa e posso me dedicar
mais ao meu consultório."
Mercado de trabalho volta a contratar só que com salários mais baixos
Formada em relações internacionais, Patricia Nogueira Proglhof trocou
de emprego em abril. A vontade de deixar a antiga empresa surgiu no fim
do ano passado quando se tornou mãe. Antes de a licença-maternidade
acabar, já começou a conversar com amigos em busca de indicações.
"Consegui emprego em um mês. Foi mais rápido do que eu imaginava", diz
Patricia. "O meu problema com o antigo emprego era basicamente com a
questão de carga horária. Não tinha horário para entrar e sair. Agora
estou com uma carga horário mais acertada."
Novas regras do auxílio-desemprego
O endurecimento das regras do auxílio-desemprego também pode ter
ajudado a aumentar os pedidos de demissões espontâneas. Até 2015,
bastava o trabalhador ter ficado seis meses no emprego que ele poderia
receber o benefício. Com
as alterações, o primeiro pedido só pode ser realizado após 18 meses de
trabalho com a obrigatoriedade de ter recebido 12 meses de salário.
As mudanças ajudaram a evitar, por exemplo, que patrão e empregado
fizessem acordo por uma demissão sem justa causa mesmo quando
trabalhador já tinha assegurado outro emprego.
Mudanças na regra do auxílio-desemprego dificultuaram acordos.
"No período de crescimento do mercado de trabalho, aumentava o número
de demissões e não de pedidos de demissões. O que se observa nas outras
economias é o contrário", diz Firpo, do Insper. "Essas mudanças
dificultaram e fizeram com que as pessoas tivessem mais consciência."
Fonte G1
Comentários
Postar um comentário