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Burnout é mais comum em mulheres devido ao acúmulo de trabalhos, diz psiquiatra


Postado em 13/03/23

No ano passado, uma a cada três mulheres pensou em deixar o emprego devido ao problema de saúde; doença é provocada por assédio profissional e leva a perda de funções

Uma mulher com síndrome de burnout muitas vezes demora a perceber que sofre da doença. As mulheres sofrem mais com o burnout do que os homens. A constatação está nos dados da pesquisa Women in the Workplace de 2021. 42% das entrevistadas já sofreram com diversos sintomas da doença. 


Em 2022, uma a cada três mulheres pensou em deixar o emprego devido ao burnout. Outras decidiram trocar de carreira. E algumas pensaram em trocar por um emprego menos estressante por causa do mesmo problema. Entre os motivos que fazem com que as mulheres sofram mais com a doença estão a rotina excessiva, alta cobrança, busca por resultados e a busca por uma suposta perfeição. É o que diz a psiquiatra Camila Magalhães: “De fato, olhando agora para a população geral, a gente percebe que as mulheres possuem prevalência de burnount, por causa, provavelmente, do papel social feminino, que vai do estresse crônico do trabalho para além do trabalho formal, mas também para o trabalho que elas exercem na esfera doméstica, e que exige delas muito mais ainda, na nossa sociedade, do que exige dos homens. E também por causa de haver, hoje em dia, muitos lares chefiados por mulheres. Então, os estudos contemplam isso também. A característica daquele lar, quantas atividades aquela mulher exerce, se ela está em uma situação de desigualdade social, uma situação de maior vulnerabilidade social. O burnout também vai pesar mais sobre essas mulheres”, explica.


Sono alterado, ansiedade, depressão, dores de cabeça, irritabilidade, falhas na memória, cansaço constante e até distúrbios gastrointestinais. Esses são alguns dos sintomas que ficaram na memória de Izabella Camargo, jornalista de 42 anos que teve um apagão ao vivo enquanto apresentava a previsão do tempo em um dos maiores telejornais do Brasil. “Esse apagão ele aconteceu em dia que marca a minha vida, mas antes eu já estava recebendo muitos sinais no meu corpo. Problemas no estômago, no intestino, de pele, de circulação, hormonais. 

Eu estava tratando tudo isso, mas os médicos vão tratando de forma isolada. Então, o corpo vai te mandando várias mensagens, vários sinais, para dizer que tem alguma coisa errada”. Depois do episódio de Burnout, Izabella ficou afastada do trabalho por pouco mais de dois meses. Quando voltou foi demitida. “Assim como a síndrome não chega de um dia para o outro, você também não se livra [dela] de um dia pro outro. E pior do que a primeira crise de Burnout é a segunda, porque você fica se culpando muito, com muito medo de humilhação, de rejeição, se cobrando demais. E qualquer melhora que você dá, você volta para o mesmo estilo de vida e, aí, vem o segundo burnout”, explica.


Quase cinco anos após o diagnóstico de burnout, a jornalista transformou a experiência em projetos voltados À prevenção de casos dentro de empresas de todos os tamanhos e setores da indústria. Segundo Izabella Camargo, a síndrome está ligada diretamente ao ambiente de trabalho. “O burnout está ligado a um ambiente de trabalho em que você vive algum tipo de assédio, que provoca um dano existencial, como o desembargador Sebastião Oliveira diz. Desse dano existencial é que você perde uma funcionalidade. Então é muito importante que as pessoas tenham clareza que cansaço é uma coisa, exaustão é outra coisa e burnout é outra coisa”.

 Como o cansaço está presente na maioria dos dias, o diagnóstico costuma exigir alto conhecimento. “Eu fiquei um ano sem dirigir, fiquei meses sem conseguir compreender um texto. Hoje mesmo eu conversei com uma pessoa que me disse que não conseguia mais fazer apresentações na empresa. Ela não conseguia mais se comunicar publicamente. Para você ter o burnout, você perde funcionalidades. Esse é um ponto bem importante para trazer um pouco mais de respeito para o diagnóstico”, completa a jornalista.


Glaucimar Peticov é diretora executiva de um grande banco brasileiro. Para buscar melhorar a saúde mental dos funcionários, ela implementou um projeto de macro e microações. “Nós começamos a pensar em dicas para que a gente pudesse ter um equilíbrio maior junto ao quadro [de funcionários], como evitar múltiplas tarefas, reuniões em excesso, fazer pausas, meditar, prática de atividades físicas, manter uma alimentação saudável. Então, nós estamos passando por várias situações, chegando até a cultivar bons relacionamentos, nós sempre procuramos deixar claro que as pessoas devem evitar o isolamento. Então, nós começamos com algumas participações pontuais em palestras, com essas preocupações”, Para ela, o assunto consegue ser bem tratado quando o cuidado ocorre em todas as pontas e de forma frequente.

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