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RELATÓRIO DA FRIOCRUZ APONTA QUE O RECIFE É UMA DAS CIDADES BRASILEIRAS ONDE O CORONAVÍRUS DEVE SE ESPALHAR MAIS RAPÍDO.

Foto: Leandro de Santana.
Com base em modelos matemáticos de previsão, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Fundação Getulio Vargas (FGV) estimaram qual o risco de disseminação da epidemia da Covid-19 no Brasil. O relatório Estimativa de risco de espalhamento da Covid-19 no Brasil e o impacto no sistema de saúde e população por microrregião, produzido pelo Núcleo de Métodos Analíticos para Vigilância em Saúde Pública (Procc/Fiocruz) e pela Escola de Matemática Aplicada (EMAp/FGV), analisou o risco de epidemias nas microrregiões brasileiras a partir da exportação de casos dos dois maiores centros urbanos do país, Rio de Janeiro e São Paulo. As duas cidades já possuem transmissão sustentada da doença e devem se tornar o principal foco de disseminação a partir de agora.

A estimativa prevê que além dos centros urbanos das regiões Sul e Sudeste, Recife e Salvador devem enfrentar a situação mais difícil, com grande potencial de acumular casos graves no curto prazo. Além da conectividade aérea, o estudo levou em conta o percentual de população de risco, acima de 60 e acima de 80 anos, elevado nessas regiões. Microrregiões no interior dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo também devem apresentar surtos em breve, devido à mobilidade pendular com suas capitais.

O relatório identifica que São Paulo apresenta maior potencial de rápida dispersão para os demais estados, por centralizar a malha aérea do país. Com a crescente suspensão de voos e o fechamento de fronteiras pelos países mais afetados e o potencial aumento de controle sanitário em relação aos passageiros de voos internacionais, o número de casos importados internacionalmente tende a diminuir sua relevância frente aos casos decorrentes de transmissão comunitária sustentada.

"Para criar a nosso cálculo de probabilidade, nós levamos em consideração a subnotificação dos casos, como observado em outros países, e o tempo de duração da infecção por paciente de oito dias. Com isso, é possível que nossos resultados comecem a ser observados em uma ou duas semanas. Mas é claro que tudo vai depender das medidas tomadas para a contenção do vírus”, explica o pesquisador da Fiocruz e coordenador do estudo, Marcelo Gomes.

Os cenários foram construídos assumindo ausência de distanciamento social e restrição de viagem. Muitos municípios e unidades da federação já iniciaram implementação de medidas de redução da mobilidade, tanto interna quanto intermunicipal ou interestadual. Tais medidas contribuem para diminuir o risco que foi avaliado no estudo. O grupo trabalha para fazer novas previsões que considerarem o impacto de medidas de restrição da mobilidade.

“Fizemos análise de distância efetiva, que se baseia na mobilidade das pessoas ao invés de distância geográfica, para análise de exposição e probabilidade de surto local em função da transmissão comunitária nos dois principais centros urbanos do país, na ausência de ações de mitigação que reduzam o fluxo de pessoas. Cruzamos essas informações com dados de proporção da população nas faixas etárias de risco, bem como número de leitos de internação e leitos complementares (UTI e unidade intermediária), nos conjuntos SUS e não SUS. Esse cruzamento de dados permite embasar estratégias de prioridade para alocação de recursos e ações para redução de impacto”, diz Gomes.

Outro importante desafio observado em quase todas as regiões do Brasil é o número de leitos disponíveis para internação. A maioria das microrregiões do país apresenta menos de quatro leitos complementares por 10 mil habitantes, um quantitativo baixo quando se considera uma doença que requer muitos dias de internação. “Quanto menor a distância efetiva de uma microrregião para Rio e São Paulo e menor o número de leitos, maior a vulnerabilidade em um possível surto”, avalia Marcelo.

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