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Denúncias de propina paga ao prefeito e ao vice-prefeito de Vertentes, no Agreste. Este é o cenário observado no município nos últimos dias, que tem deixado os moradores perplexos. A grande confusão se dá em torno do único hospital de lá, o Memorial Jaime Justiniano de Santana, fechado no final de dezembro.
O fechamento já apresenta forte impacto junto à população local, principalmente os mais necessitados de atendimento público de saúde.
No último sábado, a médica Niedja Santana, que durante 25 anos dirigiu o hospital até o seu fechamento, denunciou o prefeito Romero Leal e seu vice Helder Corrêa (ambos do PSDB), de terem recebido propinas durante três anos, como condição para que a Prefeitura repassasse a verba do SUS para a unidade hospitalar.
Niedja fez a denúncia nas redes sociais e divulgou áudios e vídeos de conversas que manteve com os dois ao longo desse período como prova material que tem sido constantemente propagado por rádios e blogs do interior de Pernambuco, nos últimos dias.
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O prefeito e o vice rebatem dizendo que o material foi editado e a acusam de não ter sido boa gestora do hospital, mas até agora não apresentaram contraprovas.
De acordo com a médica, ela tinha que pagar num mês ao prefeito o valor de R$ 17,5 mil e no outro mês, ao vice, o valor de R$ 12,5mil. Somando todos os pagamentos, os dois receberam perto de R$ 500 mil ao longo de três anos. Os recursos, segundo contou, eram a única forma de conseguir que fossem liberadas pela Prefeitura as verbas do SUS destinadas mensalmente ao hospital.
Nas conversas gravadas, a médica afirma, literalmente, o valor de cada pagamento e se refere à propina como “aquele plus para vocês”. O prefeito e o vice dão a entender que acolhem o valor. Niedja também divulgou vídeo onde mostra o vice-prefeito recebendo dinheiro dentro de um envelope suspeito, mas sem identificação sobre o que seja esse pagamento.
“Estou constrangida de denunciar isso, mas na verdade paguei a eles porque precisei, para conseguir dar continuidade aos serviços do hospital. Eu era constantemente coagida”, afirmou.
O prefeito Romero Leal não justificou o pagamento. Disse por meio das redes sociais que os áudios são falsos e atacou a médica. Afirmou que o hospital foi fechado porque estava numa situação de falência, com muitas dívidas trabalhistas. E acrescentou que ele era quem vinha sendo chantageado pela profissional nas negociações sobre o fechamento do hospital, mas não apresentou documentos.
Romero disse que vai entrar com uma ação de desapropriação do prédio do hospital esta semana e usou, como principal defesa, acusações de cunho pessoal e teor machista à médica que irritaram muitas mulheres. Na Live em que tentou se defender o prefeito desferiu palavrões e fez comentários que nenhuma ligação possuem com o caso, tais como críticas sobre o relacionamento da médica com o filho e com ex-maridos. “Fico para não viver quando sou chamado de corrupto por essa mulher”, acrescentou.
Fontes próximas a ele afirmam que o dinheiro lhe era entregue de forma muito disfarçada na praça da alimentação do Shopping Rio Mar, em Recife.
Já o vice-prefeito, Helder Corrêa, argumentou que o pagamento no qual foi filmado recebendo foi referente a pareceres cardiológicos que ele, também médico, teria feito a pedido de Niedja para o hospital. Ontem, o filho da médica, Bruno Rushansky, que foi um dos administradores da unidade, negou a versão do vice e deu o nome do profissional que faz os pareceres cardiológicos, que segundo afirmou, nunca foi Hélder Corrêa.
O assunto é o principal tema das conversas e discussões na cidade e a Câmara de Vereadores do município já discute a possibilidade de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso.
Enquanto a briga se arrasta, inclusive na esfera judicial, a população de Vertentes conta agora apenas com uma unidade de atendimento localizada ao lado do prédio do hospital, conhecida como antiga Policlínica.
A Policlínica foi reformada recentemente, mas vários opositores do prefeito acusam o local de não ter estrutura suficiente para o pronto atendimento de saúde de todos os que chegam lá – o que faz com que tenham de ser levados a viajar para outros municípios para cirurgias e procedimentos médicos diversos. Em dezembro passado, antes de fechar as portas, o hospital realizou 1.308 atendimentos na urgência e emergência, afirmou Niedja.
A versão nordestina do imbróglio, com nuances que lembram o caso da denúncia do empresário Joesley Batista contra o então presidente Michel Temer em 2017, tem tudo para respingar nas urnas e ser usado nos palanques durante as eleições deste ano.
Segue abaixo link com os áudios e vídeos originais das conversas gravadas pela médica para comprovar o pagamento da propina:
Segue abaixo, a live feito pela médica no último sábado:
Segue abaixo, a live feita pelo prefeito e vice-prefeito. Nele, o prefeito fala palavrões e faz críticas de cunho pessoal à médica na tentativa de se defender:
Fonte: Magno Martins.
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