Se os governadores do Nordeste não se mantiverem unidos para peitar Jair Bolsonaro com argumentos, discurso e estratégia, eles serão “tratorados” pelo presidente da República. Apesar da postura aparentemente institucional por parte da sua equipe, o mandatário já deixou claro que os gestores da região serão tratados como oposição porque não votaram nele. E opositor é opositor; não importa se é de Direita ou de Esquerda. Na primeira brecha que encontrar, Bolsonaro tentará alavancar um aliado seu no “território inimigo”, para usar uma linguagem militar. A tática é clara e antiga, até: minar os adversários para desqualificá-los em seguida. FHC fez isso com Arraes, por exemplo. Se o atual governo decolar na economia, aí é que essa postura ficará mais evidente.
Portanto, acertaram os governadores do Nordeste quando se anteciparam ao presidente e bateram com ênfase na tecla da necessidade de um novo Pacto Federativo. A bandeira é antiga; mas ganha cada vez mais a adesão entre os prefeitos. O movimento pode crescer e entrar na pauta do Congresso de uma vez por todas. A pressão política já teve início na carta dos governadores, divulgada, ontem, após eles se reunirem em Brasília. O Nordeste despontou como a resistência, a Quinta Coluna do enfrentamento político. Nesse processo, vale salientar, ninguém ainda se configurou como a “cara do movimento”. Talvez isso seja bom para preservar a unidade e a vontade dos envolvidos permanecerem no enfrentamento.
A estratégia, fundamental nesse embate, começa a ficar clara. Bolsonaro já entendeu. Por enquanto, seu capital político adquirido na campanha, e que foi pouco gasto nesse primeiro mês de mandato, é o seu trunfo. Essa gordura, porém, pode ser gasta na guerra pela aprovação da reforma da Previdência; uma pauta mais urgente que a disputa com os nordestinos, e da qual depende o futuro político do próprio presidente.
Os sinais, entretanto, são fortes. De ambos os lados. A queda de braço é iminente; vai estourar logo. Bolsonaro tem no seu time um cordão de governadores, do Sudeste e do Sul, ávidos por darem provas de lealdade. Nesse sentido, João Doria (SP), Wilson Witzel (RJ), Romeu Zema (MG), Ibaneis Rocha (DF), Ratinho Júnior (PR) e Eduardo Leite (RS) são os pontas de lança do presidente, que tentarão puxar o protagonismo de um movimento de governadores para si e para a pauta que definirem. A antecipação dos nordestinos, nesse aspecto, é outro ponto positivo, que vai se refletir na prática. A turma dessas bandas é disposta, tem garra e está pronta para o embate. Estão unidos pela sobrevivência política.
Outras bandeiras - Além da revisão do Pacto Federativo, os governadores do Nordeste cobraram de Jair Bolsonaro um debate mais amplo sobre a reforma previdenciária e os projetos de Lei para a segurança pública; além da proposição do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). A estratégia da carta com as reivindicações é boa para ser o ponto de partida. Cabe aos gestores, no entanto, a criação de novos fatos políticos na defesa de suas bandeiras.
Operações de crédito - Em paralelo à pauta dos governadores do Nordeste, o gestor de Pernambuco, Paulo Câmara, defendeu a revisão do Pacto Federativo durante reunião com o superministro da Economia, Paulo Guedes, em Brasília. O pernambucano também tratou da liberação da contratação de novas operações de crédito para o estado, reivindicação solicitada desde os tempos de Michel Temer. Guedes sinalizou, no encontro, que uma operação junto ao BID no valor de R$ 140 mi já está pronta para ser liberada.
Frente Parlamentar - Antes mesmo de os governadores do Nordeste provocarem o debate, o deputado federal Silvio Costa Filho já foi logo conseguindo 250 assinaturas para a criação de uma Frente Parlamentar Mista em Defesa do Novo Pacto Federativo. Agora, Costa Filho vai tratar da proposta com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre. Se continuar nessa pisada, Silvinho logo estará no Jornal Nacional, a exemplo do pai, Silvio Costa, que entrou no maior noticiário do país pouco tempo depois da sua chegada à Câmara.
Na pressão - Por falar em pressão dos governadores, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, aceitou mudar seu projeto de Lei conhecido como anticrime por pressão dos gestores estaduais, aí não apenas os nordestinos. Os governadores ganharam o apoio, nesse caso, do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal. A Moro não sobrou outra alternativa - ele teve que acatar as cobranças. O ex-juiz se tocou que vai precisar aparar arestas para levar seus planos adiante.
Curtas –
POLÊMICA - Já aconteceu a primeira polêmica no plenário da Alepe. Ontem, as Juntas quiseram retirar da votação um requerimento de Cleiton Collins criando uma frente em defesa da “família” e contra as drogas. Depois da explicação de que não poderiam rifar o pedido, as deputadas aceitaram entrar no colegiado e participar das discussões. Tudo graças à mediação de Priscila Krause e do presidente Eriberto Medeiros.
AQUI NÃO, MOURÃO! - Joel da Harpa subiu à tribuna da Alepe, ontem, para discursar. Depois de parecer que iria reivindicar para si o título de líder do bolsonarismo em Pernambuco, ele utilizou seu tempo foi para dar uma estocada no vice-presidente Mourão. Criticou o fato de o general ter se posicionado contra benefícios aos militares na reforma previdenciária. Mourão vem a Pernambuco dia oito de março, quando Joel pode reclamar pessoalmente.
VOCABULÁRIO - Inusitado o vocabulário que o líder da oposição, Marco Aurélio, tem utilizado nos seus primeiros discursos na Assembleia. Depois de “geringonça”, o parlamentar soltou um “mangaba” ao se referir a uma possível dica que estaria dando aos governistas sobre a atuação da bancada. Os novos deputados, por sinal, têm discursado muito na Alepe.
Perguntar não ofende: Tinha necessidade de Carluxo postar uma selfie com o pai, Bolsonaro, quase nu, fazendo fisioterapia no hospital?
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